Panorama do Dia – Bolsa fecha semana em alta, com alívio técnico em juros
A sexta-feira marcou um pregão de recuperação para os ativos brasileiros. O Ibovespa subiu 0,99%, fechando aos 160.766,37 pontos, voltando ao patamar dos 160 mil e encerrando a semana com alta de 1,07% em dezembro e valorização de 33,09% no ano.
A alta da Bolsa veio acompanhada de um quadro bem mais favorável na Renda Fixa: os juros futuros (DIs) recuaram em toda a curva, devolvendo parte do prêmio de risco acumulado nos dias de maior estresse político. Já o dólar comercial teve leve alta de 0,11%, cotado a R$ 5,411, mas ainda encerrou a semana em queda de 0,40%, mostrando que o movimento foi mais de ajuste de posições do que de fuga de risco.
O pano de fundo foi uma combinação de fatores: menor ruído político doméstico, percepção de que o Copom segue duro, mas previsível, e um cenário externo em que, apesar da recente decisão do Fed, o foco de curto prazo se deslocou para as dúvidas sobre o setor de tecnologia e de Inteligência Artificial nos EUA.
Olhar Global – Temores com tecnologia derrubam Wall Street, mesmo com Fed em ciclo de corte
No exterior, a sexta-feira foi negativa para as bolsas americanas. Em Nova York, o movimento foi de realização e rotação setorial, com saída de ações de tecnologia de alto crescimento: o Dow Jones caiu 0,51%, o S&P 500 recuou 1,07% e o Nasdaq perdeu 1,69%, em um dia de correção mais forte nas empresas ligadas à Inteligência Artificial. Na Europa, as principais bolsas também fecharam em campo negativo, refletindo o mesmo tom de cautela.
Esse ajuste acontece logo depois de o Federal Reserve ter confirmado seu terceiro corte consecutivo de juros, reduzindo a taxa em 25 pontos-base para a faixa entre 3,50% e 3,75% ao ano. A decisão veio com dissidências importantes: Stephen Miran defendeu corte de 0,50 p.p., enquanto Jeffrey Schmid e Austan Goolsbee votaram por manter os juros, evidenciando um Comitê fragmentado.
Na comunicação, Jerome Powell adotou um tom equilibrado: reconheceu que o Fed entra em uma espécie de pausa, mas não descartou um novo corte em janeiro, reforçando que “haverá muitos dados até a próxima reunião”. O gráfico de pontos projetou apenas dois cortes em 2026, sinalizando maior cautela à frente.
Além disso, o Fed anunciou a retomada da expansão do balanço, com compras de até US$ 40 bilhões em Treasuries de curto prazo neste mês, o que tende a manter condições financeiras mais frouxas no curto prazo. No campo político, Donald Trump criticou publicamente o ritmo dos cortes e pressiona por reduções mais agressivas, enquanto a disputa pela sucessão de Powell ganha corpo, com Kevin Warsh e Kevin Hassett entre os favoritos.
Ibovespa – Petrobras e bancos puxam recuperação; política um pouco mais “ao centro”
No Brasil, o pregão de sexta consolidou um movimento de recuperação das blue chips e de ajuste pós-estresse político. O Ibovespa subiu 0,99%, a 160.766,37 pontos, com destaque para alguns vetores:
- Petrobras (PETR4) avançou 1,06%, contrariando a queda do petróleo internacional, apoiada pelo fluxo para ações de grande liquidez.
- Os bancos ajudaram a empurrar o índice para cima: Itaú Unibanco (ITUB4) subiu 0,89%, e Bradesco (BBDC4) ganhou 0,65%.
- No campo político, sondagens eleitorais sugerindo ganho de tração de candidaturas de centro-direita, como Tarcísio de Freitas, foram lidas pelo mercado como um fator de modesto otimismo, reduzindo, na margem, o risco de um cenário fiscal mais frouxo no pós-2026.
- Do lado da atividade, o setor de serviços registrou crescimento em outubro, pela nona vez consecutiva, reforçando a imagem de uma economia que desacelera, mas ainda mostra resiliência em serviços.
A Vale (VALE3) chegou a sentir a pressão do minério de ferro, mas conseguiu reduzir perdas e fechou praticamente estável, com queda leve de 0,06%. Já a Hapvida (HAPV3) foi um dos destaques positivos do dia, com alta de 5,45%, seguindo seu processo de recuperação após fortes ajustes anteriores.
Com isso, o Ibovespa soma 1,07% em dezembro e 33,09% no ano, mesmo após episódios de forte volatilidade ligados ao noticiário eleitoral recente.
Juros – Curva devolve prêmio de risco, com alívio técnico em toda a extensão
Os juros futuros (DIs) tiveram mais um dia de alívio, com queda em toda a curva. O DI1F29 perdeu o patamar de 13,10%, e o DI1F33 também recuou, em um movimento clássico de devolução de prêmio após uma semana marcada por sustos e ajustes.
No agregado da semana, a trajetória da curva reflete bem esse vai e volta:
- Logo após o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, os vértices dispararam, com o DI jan/27 chegando a 13,843%, jan/29 a 13,229%, jan/31 a 13,472% e jan/33 a 13,578%.
- A aprovação do PL da Dosimetria na Câmara, interpretada como peça de negociação para possível recuo da candidatura de Flávio, trouxe algum fechamento, mas ainda com prêmio elevado.
- Após Fed e Copom, os contratos mais longos ampliaram o movimento de queda, e, no fechamento de sexta, a curva registrava jan/27 em 13,635%, jan/29 em 13,015%, jan/31 em 13,315% e jan/33 em 13,450%, com o mercado dividido entre corte em janeiro ou somente em março, mas mantendo chance relevante para início do ciclo já no começo de 2026.
Para o público RPPS, a sexta-feira foi positiva para a Renda Fixa, com valorização dos títulos pela marcação a mercado:
- IMA-B 5+: +0,2428%
- IMA-B: +0,2253%
- IMA-B 5: +0,2029%
- IRF-M: +0,3170%
- IRF-M 1: +0,0683%
Esse movimento reforça como episódios de estresse político elevam o prêmio de risco de forma rápida, mas também abrem janelas de oportunidade para investidores com horizonte de longo prazo, quando a curva começa a devolver esses excessos.
Dólar – Moeda sobe no dia, mas fecha semana em queda
No câmbio, a sexta-feira foi de leve alta da moeda americana, com o dólar comercial fechando a R$ 5,411, alta de 0,11%. Porém, no acumulado da semana, o dólar caiu 0,40%, mostrando que o viés predominante dos últimos dias foi de alívio, e não de pressão.
Ao longo da semana, o dólar passou por um intenso vai e vem:
- Após o anúncio da pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, a moeda chegou a encostar em R$ 5,50 na máxima intradiária, em meio a forte aversão ao risco político.
- Com o avanço do PL da Dosimetria, visto como possível moeda de troca para uma saída negociada de Flávio, o câmbio começou a devolver parte do estresse.
- A decisão do Fed em linha com o esperado, combinada ao carry trade ainda muito favorável (Selic a 15%), ajudou a reforçar a atratividade do real para o investidor estrangeiro.
- A reversão das sanções da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes também contribuiu para um fechamento adicional da curva de juros e para um tom de normalização nas relações com Washington, reduzindo o risco de curto prazo.
Na sexta, o leve avanço da moeda refletiu principalmente ajuste técnico e fluxos de fim de semana, sem mudança relevante na tendência de curto prazo.
Cenário Internacional – Fed dividido, balanço em expansão e tecnologia sob escrutínio
No quadro global mais amplo, o cenário continua marcado por:
- Fed dividido, mas em ciclo de corte, com mensagem de pausa, porém flexível;
- Retomada da expansão do balanço, com compras de Treasuries de curto prazo;
- Debate sobre sucessão de Powell, com nomes mais inclinados a cortes agressivos, como Kevin Hassett, ganhando espaço;
- Dólar estruturalmente mais fraco, ainda que sujeito a repiques pontuais;
- E um mercado de tecnologia/IA sob escrutínio, com investidores questionando valuations após resultados aquém do esperado de empresas como Oracle e movimentos mais erráticos nas big techs.
Esse ambiente tende a favorecer, na margem, ativos de países emergentes com juros altos, como o Brasil, mas deixa claro que a volatilidade continuará alta, especialmente em setores ligados a tecnologia e em ativos mais sensíveis ao ciclo de crescimento global.
Cenário Doméstico – Copom mantém tom duro; política ainda no radar, mas com menos ruído
No Brasil, o foco segue no Banco Central e na política doméstica. O Copom manteve a Selic em 15% com um comunicado cauteloso, preservando o tom hawkish, mas ajustando projeções de inflação para baixo:
- Inflação no horizonte relevante caiu de 3,3% para 3,2%, aproximando-se do centro da meta de 3%;
- Projeções para 2025 recuaram de 4,6% para 4,4%;
- Para 2026, de 3,6% para 3,5%.
O Comitê também passou a caracterizar o mercado de trabalho como “resiliente”, e não mais “dinâmico”, e citou explicitamente a fraqueza do PIB do 3º trimestre, com estagnação do consumo, como evidência de maior eficácia da política monetária. Ainda assim, Galípolo evitou dar guidance claro para janeiro, mantendo o mercado dividido entre início do ciclo de cortes em janeiro ou em março.
No campo político, a semana foi marcada pela forte turbulência gerada pela pré-candidatura de Flávio Bolsonaro, que chegou a derrubar o Ibovespa em mais de 4% e empurrou o dólar para perto de R$ 5,50. A aprovação do PL da Dosimetria na Câmara trouxe alívio parcial, ao ser lida como parte de uma negociação que pode levar à desistência de Flávio, reduzindo a fragmentação da direita e abrindo espaço para um nome mais palatável ao mercado, como Tarcísio.
Na frente fiscal, o governo avançou nas negociações para aprovar o corte de cerca de R$ 20 bilhões em benefícios tributários, peça considerada essencial para viabilizar o Orçamento de 2026, e também acelerou tratativas com um consórcio de bancos para um empréstimo de R$ 15 bilhões aos Correios, aliviando o caixa das estatais.
E agora? – Semana começa com foco em atividade e inflação no Brasil
Iniciamos a última semana completa do ano com as atenções voltadas, principalmente, para a economia doméstica. Os dados de inflação ao produtor (IGP-10) e de atividade (IBC-Br) de outubro ajudam a calibrar a leitura sobre a desaceleração gradual do crescimento e a eficácia da política monetária em patamar contracionista.
Além disso, o Boletim Focus desta segunda-feira será importante para avaliar se as expectativas de inflação e Selic começam a reagir ao conjunto de decisões recentes de Fed e Copom, bem como à redução de parte do estresse político da semana passada.
Agenda do dia – Indicadores Econômicos
- 08:00 – Brasil: IGP-10 (dezembro)
- 08:25 – Brasil: Boletim Focus
- 09:00 – Brasil: IBC-Br (outubro) – prévia do PIB
- 12:30 – EUA: Discurso de Williams, membro do FOMC