Panorama do Dia – Bolsa reage à “prévia do PIB” fraca e reforça aposta de corte da Selic
A última semana cheia do ano começou com forte apetite por risco no Brasil. O Ibovespa avançou 1,07%, aos 162.481,74 pontos, embalado por um gatilho claro: o IBC-Br de outubro, considerado a “prévia do PIB”, veio negativo e surpreendeu o mercado com contração em torno de 0,2%–0,25%, quando se esperava alta. À primeira vista, atividade mais fraca não é boa notícia mas, para o mercado, o dado reforça a leitura de desaceleração, reduz pressão inflacionária e abre mais espaço para o Banco Central iniciar cortes de juros já no começo de 2026.
A reação apareceu também na curva: os juros futuros (DIs) recuaram ao longo de toda a estrutura, com a percepção de que a economia “pisando no freio” aumenta a probabilidade de flexibilização monetária. No câmbio, porém, o movimento foi diferente: o dólar subiu 0,21%–0,23%, encerrando por volta de R$ 5,42, sustentado por ajuste técnico, fluxo de remessas e cautela antes da ata do Copom, mesmo com o dólar global (DXY) operando levemente em baixa.
Olhar Global – Bolsas mistas e expectativa por dados represados de emprego nos EUA
Em Nova York, o dia foi de compasso de espera e mercado “dependente de dados”. Os índices fecharam mistos, com leve viés negativo no Dow Jones (-0,09%) e no S&P 500 (-0,16%), enquanto a tecnologia sustentou melhor o pregão. Aqui vale o ponto de atenção: há divergência entre as leituras do dia em uma referência, o Nasdaq aparece positivo (+0,59%), mas no noticiário internacional também circulou o fechamento do Nasdaq em queda, o que reforça a percepção de sessão instável e sensível a posicionamento.
O pano de fundo é a ansiedade por uma bateria de indicadores represados após a paralisação do governo americano, com destaque para o relatório de emprego. Os Treasuries recuaram (com o 2 anos perto de 3,51% e o 10 anos ao redor de 4,18%) e o DXY cedeu marginalmente. No Fed, o debate segue dividido: dirigentes mais “hawkish” continuam preocupados com a persistência da inflação, enquanto a ala “dovish” tem dado mais peso aos sinais de fragilidade no mercado de trabalho.
Nas commodities, o petróleo perdeu força: o Brent caiu (perto de USD 60,6/barril), pressionado por sinais de desaceleração na China e pelo noticiário sobre negociações de paz na Ucrânia.
Ibovespa – Bancos lideram rali com “sinal verde” para queda de juros
No Brasil, a lógica do pregão foi direta: atividade fraca → inflação tende a aliviar → juros podem cair mais cedo. Esse roteiro favorece especialmente os setores mais sensíveis ao custo de capital e ao ciclo doméstico, e foi por isso que os bancos puxaram a alta. O Santander (SANB11) disparou 3,10%, com Itaú (ITUB4) subindo 1,51% e Banco do Brasil (BBAS3) avançando 1,43%. Vale e Petrobras também ajudaram a sustentar o índice, com Vale (VALE3) +0,61% e Petrobras (PETR4) +0,35%.
Do lado negativo, o destaque foi a Azul (AZUL4), que despencou 20,75% em meio a preocupações com possível diluição no processo de reestruturação. No agregado, o Ibovespa passou a acumular +2,14% em dezembro e cerca de +34,16% no ano, mantendo o Brasil como um dos mercados com melhor performance em 2025.
Juros – Curva devolve prêmio e mercado volta a precificar corte mais cedo
Os DIs fecharam em queda, com recuos mais visíveis nos vértices intermediários e longos. Na leitura do mercado, o IBC-Br fraco reforçou a chance de o Copom cortar a Selic já em janeiro, com probabilidades que chegaram a circular perto de 75% em algumas projeções.
Na prática, os contratos passaram a embutir taxas menores, com referências como o DI jan/2028 girando ao redor de 12,97% e o DI 2035 perto de 13,37% (níveis aproximados citados no material).
Para o público RPPS, o recuo das taxas foi positivo porque melhora a marcação a mercado dos títulos, especialmente os mais longos. Os índices de referência da renda fixa avançaram:
- IMA-B 5+: +0,1515%
- IMA-B: +0,1373%
- IMA-B 5: +0,1190%
- IRF-M: +0,1212%
- IRF-M 1: +0,0597%
Dólar – Sobe apesar do DXY fraco, com ajuste e foco na ata do Copom
O dólar à vista encerrou em torno de R$ 5,422, alta de 0,21%–0,23%, recuperando a faixa de R$ 5,42 depois de testar níveis abaixo de R$ 5,40 na abertura. A alta chamou atenção porque, lá fora, o DXY caiu levemente, o que normalmente ajudaria moedas emergentes. Aqui, pesaram fluxos de remessas, ajuste técnico e a postura de cautela antes da ata do Copom, já que um câmbio mais pressionado pode afetar expectativas inflacionárias — ponto sensível para o Banco Central.
Cenário Doméstico – Focus melhora inflação e Congresso segue no radar fiscal
Além do IBC-Br, o Boletim Focus reforçou melhora marginal nas expectativas: inflação de 2025 caiu para 4,36% e a de 2026 para 4,10%, enquanto a mediana da Selic 2026 recuou para 12,13%. A leitura é que, mesmo que o BC não corte em janeiro, o mercado imagina que um início mais tarde pode implicar cortes mais fortes depois.
No Congresso, avançou a pauta de reforma tributária com a aprovação do projeto que institui o Comitê Gestor do IBS. Para hoje, fica no radar o projeto de redução de benefícios e incentivos fiscais em 2026, tema crucial para o fechamento do Orçamento e que pode mexer com juros e câmbio conforme o ritmo político.
E agora? – Ata do Copom e “bateria” de emprego e consumo nos EUA podem trazer volatilidade
A terça-feira tem tudo para ser um dos dias mais voláteis do mês. No Brasil, a Ata do Copom deve dar pistas sobre o grau de convicção do BC e o quanto o comitê está confortável para iniciar o ciclo de cortes. Na sequência, o mercado vira para os EUA: uma bateria de dados de emprego e varejo pode recalibrar a narrativa de juros do Fed e, por tabela, mexer com dólar, bolsas e commodities.
Agenda do dia – Indicadores Econômicos
- 08:00 – Brasil: Ata do Copom
- 10:15 – EUA: Variação de empregos ADP
- 10:30 – EUA: Relatório de Emprego (Payroll)
- 10:30 – EUA: Taxa de Desemprego e Vendas no Varejo
- 11:45 – EUA: PMI Industrial