O Ibovespa abriu a semana com um movimento de alívio, subindo 0,52% e fechando aos 158.187 pontos, após a forte derrocada da última sexta-feira, quando o índice caiu mais de 4% a maior baixa diária desde 2021. A recuperação, ainda tímida frente às perdas anteriores, refletiu uma reavaliação do cenário político doméstico, com o mercado enxergando agora a possibilidade de que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro seja revista ou negociada, reabrindo espaço para que um nome de centro como Tarcísio de Freitas ganhe força em 2026. Esse rearranjo reduz o temor de deterioração fiscal futura, que havia sido precificado de forma abrupta na sexta-feira.
Apesar da melhora, o índice ainda acumula queda de 0,55% em dezembro, e o ambiente global continua mais cauteloso. Nos EUA, as bolsas encerraram o dia em baixa, refletindo a prudência típica que antecede decisões do Federal Reserve em uma semana marcada pela chamada Super Quarta dos juros.
Olhar Global: Wall Street cai em dia de cautela antes do Fed
Os mercados globais operaram em compasso de espera na segunda-feira. Em Nova York, os principais índices fecharam no vermelho: o Dow Jones caiu 0,45%, o S&P 500 recuou 0,35% e o Nasdaq perdeu 0,14%. A proximidade da decisão do Federal Reserve, a ser divulgada amanhã, reduziu o apetite ao risco.
Embora o mercado siga projetando com elevada probabilidade cerca de 87% um corte de 25 pontos-base na taxa básica americana, os investidores aguardam o discurso de Jerome Powell, que deve reforçar que as próximas etapas dependerão da evolução dos dados. O dólar se manteve estável frente à maioria das moedas, mas ganhou força contra o iene após um terremoto atingir o Japão. Nos Treasuries, houve leve ajuste: a T-note de 2 anos fechou em 3,58% e a de 10 anos subiu para 4,17%.
O dia também foi marcado por oscilações no petróleo, que recuou perto de 2% em função das negociações de paz entre Rússia e Ucrânia e sinais de aumento de oferta global. No campo político americano, ressurgiram discussões sobre a sucessão no comando do Fed com Kevin Hassett despontando como favorito para substituir Powell em 2026, o que levanta debates sobre o risco de uma política monetária mais frouxa no próximo ciclo.
Ibovespa: Bancos lideram recuperação; Vale e Petrobras ganham tração
A Bolsa brasileira registrou uma sessão de recuperação técnica, impulsionada principalmente pelas ações que mais sofreram na sexta-feira. Os bancos, epicentro da queda passada, foram protagonistas da retomada: Banco do Brasil subiu mais de 2%, enquanto Santander avançou quase 1%. O movimento refletiu a leitura de que o cenário político não está definido e que, portanto, o risco fiscal pode não ser tão extremo quanto o precificado no último pregão.
A Petrobras, descolada da baixa do petróleo no exterior, avançou 0,92%. Já a Vale subiu 0,68%, favorecida por uma correção técnica dos preços e por expectativas de aumento de demanda global com um dólar potencialmente mais fraco no horizonte.
Mesmo com o desempenho positivo do dia, o índice ainda acumula queda de 0,55% no mês, mas mantém valorização robusta de 31,47% no ano.
Juros Futuros: Alívio parcial, mas prêmio elevado ainda persiste
A curva de juros futuros (DIs) registrou queda em toda a sua extensão, devolvendo parte do salto observado na sexta-feira. O DI para 2028 recuou 11 pontos-base, encerrando em 13,13%. Apesar disso, boa parte do prêmio de risco fiscal acumulado permanece na curva, refletindo a prudência dos investidores.
A sinalização de que a candidatura de Flávio Bolsonaro pode ser negociada trouxe alívio, mas o mercado ainda prefere aguardar desenvolvimentos concretos. A volatilidade deve continuar elevada até as decisões do Federal Reserve e do Copom.
Para investidores institucionais, especialmente RPPS, o movimento foi favorável: a queda nas taxas elevou o valor de mercado dos títulos de renda fixa, sobretudo os prefixados e os papéis atrelados à inflação de curto e médio prazo.
Dólar: Recuo técnico após salto abrupto
O dólar comercial fechou em queda de 0,22%, cotado a R$ 5,421, corrigindo parte do forte movimento da sexta-feira, quando a moeda americana disparou mais de 2%. A queda no Brasil ocorreu apesar do fortalecimento global do dólar, mostrando que o ajuste local foi predominantemente técnico, acompanhado pelo alívio político e pela breve recuperação da Bolsa.
A moeda segue volátil e deve continuar reagindo principalmente ao noticiário doméstico e às decisões de política monetária internacionais.
Cenário Internacional: Fed, JOLTS e tensões globais definem o ritmo da semana
Com a Super Quarta se aproximando, a economia global mantém o foco sobre o Fed. O mercado segue convicto de que um corte será anunciado amanhã, mas especula-se sobre a linguagem que Powell adotará para 2026.
No Japão, o terremoto em Hokkaido impactou o humor do mercado asiático, enquanto a China divulgará novos dados de inflação amanhã. Na Europa, líderes permanecem engajados em discussões diplomáticas envolvendo a guerra na Ucrânia.
Cenário Doméstico: Calma parcial após recuo político; foco no Copom e na LDO
No cenário interno, o tom mais moderado após as declarações de Flávio Bolsonaro no fim de semana ajudou a reduzir o estresse do mercado. O senador admitiu que pode abrir mão da candidatura e reconheceu Tarcísio de Freitas como principal nome do grupo político. A leitura dominante entre os investidores é de que esse recuo favorece a reunificação do campo oposicionista e diminui o risco fiscal embutido na curva de juros.
O dólar devolveu parte das perdas, os juros futuros recuaram — ainda que levemente — e o mercado agora se concentra na decisão do Copom amanhã, que deve manter a Selic em 15%. O comunicado será crucial para identificar se a porta para cortes em janeiro permanece aberta.
O ambiente político segue tenso após a decisão do STF sobre impeachment de ministros da Corte, que gerou reação imediata do Congresso. Paralelamente, a votação da LDO de 2026 está na pauta de hoje e pode intensificar as tensões entre Executivo e Legislativo.
E Agora? Dados de emprego nos EUA aquecem o pré-Super Quarta
A agenda internacional desta terça-feira traz dados relevantes para o rumo dos juros globais. As Ofertas de Emprego JOLTS, às 12h, servirão como termômetro da desaceleração do mercado de trabalho americano — um fator decisivo para o Fed. À tarde, o relatório agrícola WASDE pode trazer volatilidade adicional.
No Brasil, o mercado deve operar de forma contida até a divulgação da decisão do Copom na quarta-feira.
Agenda Econômica do Dia
- 12:00 – EUA: Ofertas de Emprego (JOLTS) – Outubro
- 14:00 – EUA: Relatório WASDE – USDA