A taxa do Tesouro IPCA+ 2029 superou 8,00% de juro real, mesmo após um alívio global nos mercados — reflexo de declarações mais brandas do Federal Reserve e da recuperação das bolsas americanas. No entanto, o investidor local ainda exige prêmio elevado para carregar títulos públicos de longo prazo, em meio a incertezas fiscais e à indefinição sobre o rumo da política monetária doméstica.
Enquanto o exterior sinaliza redução futura de juros, o Brasil permanece em compasso de espera. O Banco Central, segundo o diretor de Política Monetária Nilton David, ainda não dispõe de dados suficientes para indicar até quando durará o “período prolongado” de manutenção da Selic em 15% ao ano. Ou seja: sem viés de baixa no curto prazo, o ambiente de juros elevados pode permanecer por mais tempo do que o esperado.
O dilema: incerteza ou oportunidade?
Diante desse quadro, surge a provocação:
qual é o verdadeiro risco para os regimes próprios de previdência (RPPS)?
- A incerteza seria a Selic cair antes do previsto, reduzindo a atratividade dos títulos prefixados e IPCA+ adquiridos hoje?
- Ou o risco está em não aproveitar o atual patamar elevado das taxas reais, perdendo a chance de garantir retornos acima da meta atuarial e consolidar ganhos reais para o futuro?
Com o Tesouro IPCA+ 2029 pagando 8,06% ao ano de juro real na presente data, o investidor previdenciário encontra um ponto raro de convexidade entre segurança e retorno. Ainda que o ambiente fiscal exija cautela, o custo de oportunidade de ficar de fora pode ser mais alto do que o risco de permanecer.
O papel estratégico do RPPS
Para gestores de RPPS, o momento exige decisões estruturadas e disciplinadas, com base em análises de duration, metas atuariais e política de alocação. Em vez de reagir ao noticiário, é hora de pensar estrategicamente:
- Fixar parte da carteira em juros reais elevados pode proteger o passivo atuarial por vários anos.
- Diversificar vencimentos reduz o risco de marcação a mercado e permite capturar ganhos táticos em ciclos futuros de corte.
- Reforçar a gestão de liquidez é essencial, dado o cenário fiscal ainda incerto.
Conclusão: serenidade e visão de longo prazo
O Banco Central prega serenidade ao conduzir a política monetária — e o mesmo princípio deve nortear o investidor institucional.
Entre a incerteza da política econômica e a certeza de taxas reais historicamente altas, a resposta talvez esteja em uma pergunta mais simples:
O risco maior está na Selic cair — ou em deixar passar uma das melhores janelas de rentabilidade real dos últimos anos?