Olhar Global – Wall Street dispara com aposta renovada em corte de juros e força da Inteligência Artificial
A segunda-feira foi marcada por um poderoso movimento de alta nas bolsas americanas, puxado pelo avanço das apostas de que o Federal Reserve (Fed) poderá realizar um novo corte de 0,25 ponto percentual na reunião de dezembro. As declarações do diretor Christopher Waller, um dos nomes cotados para assumir a presidência do Fed em 2026, funcionaram como catalisador imediato para o apetite global por risco. Waller afirmou que o mercado de trabalho pode estar fraco o suficiente para justificar mais estímulos monetários, enquanto Mary Daly, presidente do Fed de São Francisco, também se posicionou de forma favorável ao corte.
Além disso, o clima geopolítico também contribuiu para o bom humor. O presidente Donald Trump declarou ter tido uma “conversa excelente” com o líder chinês Xi Jinping, envolvendo temas sensíveis como a guerra na Ucrânia, comércio agrícola e cooperação em segurança. O gesto reforça a sinalização de reaproximação entre EUA e China, contribuindo para uma trégua parcial no ambiente geopolítico.
O Nasdaq liderou as altas, impulsionado pelo desempenho excepcional do setor de Inteligência Artificial. A Alphabet (Google) se aproximou da marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado, simbolizando a magnitude do rali das big techs. A queda dos juros dos Treasuries ao longo do dia também reforçou a melhora do humor global, com a taxa de 10 anos recuando para 4,04%, perto do importante nível psicologicamente relevante de 4%. No petróleo, a sessão iniciou com pressão baixista, mas reverteu e terminou positiva diante de ruídos diplomáticos envolvendo Rússia e Ucrânia, com o WTI fechando acima de US$ 58 por barril.
Ibovespa – Bolsa volta ao positivo com impulso do varejo e da Neoenergia
Depois de quatro quedas consecutivas, o Ibovespa voltou ao campo positivo e subiu 0,33%, encerrando o pregão aos 155.277,56 pontos. O movimento foi moderado em comparação ao rali de Nova York, mas marcou um alívio importante para o mercado brasileiro — especialmente após a semana passada, de maior cautela e baixa liquidez.
Os setores mais sensíveis ao ciclo econômico se destacaram. O varejo foi o protagonista do dia, impulsionado pela proximidade da Black Friday e pela melhora das expectativas sobre juros, tanto no Brasil quanto nos EUA. Magazine Luiza (MGLU3) avançou 2,80%, refletindo a percepção de que um ambiente de crédito mais benigno pode destravar o consumo no fim do ano.
A maior surpresa corporativa ficou por conta da Neoenergia (NEOE3), que disparou mais de 7% após a proposta de fechamento de capital. O mercado recebeu a notícia com entusiasmo, e o papel foi responsável por uma fatia relevante da alta do índice.
Em contrapartida, as gigantes de commodities tiveram desempenho mais moderado, com movimentos de realização de lucros. A Vale (VALE3) registrou leve queda de 0,11% mesmo com o minério em alta, enquanto Petrobras (PETR4) recuou 0,09% apesar da valorização do petróleo — reflexo de ajustes técnicos e recentes oscilações geopolíticas.
Juros – Curva recua com sinalização dovish do Fed e impacto imediato para a Renda Fixa
Os juros futuros brasileiros recuaram de ponta a ponta da curva, refletindo a combinação de alívio internacional e expectativas de flexibilização monetária doméstica. O DI para 2029 recuou 0,065 ponto percentual, e as demais maturidades seguiram a mesma direção.
A leitura da última Ata do Copom, publicada recentemente, segue reverberando no mercado, com seu tom mais suave abrindo espaço para discussões sobre cortes na Selic já no primeiro trimestre de 2026. Somada a isso, a sinalização de novos cortes nos EUA oferece reforço importante para ativos de renda fixa, especialmente em países emergentes.
Para os RPPS, o movimento é altamente positivo: a queda nos DIs gera valorização na marcação a mercado dos títulos prefixados e indexados à inflação. O IMA-B 5+, por exemplo, registrou alta significativa, refletindo a melhora das expectativas de inflação futura.
Dólar – Moeda recua em sinal de alívio após movimento recente de estresse
O dólar encerrou o dia com leve queda de 0,11%, negociado a R$ 5,395. A correção acontece após duas sessões de firme alta, influenciada pelo bom humor externo e pela percepção de que os bancos centrais globais — incluindo o Fed — tendem a adotar postura mais acomodatícia nos próximos meses.
Apesar da queda, o câmbio segue operando acima de R$ 5,30, ainda refletindo a volatilidade global e fluxos sazonais típicos do fim do ano, como remessas de lucros e dividendos. Mesmo assim, a melhora do apetite por risco manteve o Real entre as moedas emergentes de melhor desempenho do dia.
Cenário Doméstico – Ativos sobem com discurso técnico do BC e tensões políticas seguem no radar
No cenário interno, os ativos encontraram suporte adicional no discurso do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante evento da Febraban. Ao enfatizar que o BC está comprometido com decisões técnicas, desvinculado de pressões políticas, Galípolo reforçou a credibilidade da política monetária — uma mensagem bem recebida pelo mercado, que segue atento às tensões recentes entre o governo e a autoridade monetária.
A política brasileira, porém, continua sendo um fator de risco. A indicação de Jorge Messias ao STF segue gerando ruído no Senado, aumentando o clima de tensão entre Executivo e Legislativo. Matérias de alto impacto fiscal, como a aposentadoria especial de agentes de saúde e o projeto do devedor contumaz, continuam no radar e podem elevar a volatilidade nos próximos dias, especialmente com o fim do ano legislativo se aproximando.
E agora?
O mercado inicia o dia com agenda carregada de dados nos EUA, que devem trazer volatilidade ao longo da manhã. A divulgação do IPP e das Vendas no Varejo de setembro, represados pelo shutdown, terá papel crucial na leitura do Fed sobre a trajetória da inflação. No Brasil, o foco está na quarta-feira, com a divulgação do IPCA-15 de novembro — indicador-chave para calibrar as apostas de início do ciclo de cortes da Selic.
Agenda do Dia – Indicadores Econômicos
• 4h00: PIB da Alemanha (Q3, anual) – Zona do Euro
• 10h30: Núcleo do IPP (Set) – EUA
• 10h30: IPP (Set) – EUA
• 10h30: Vendas no Varejo (Set) – EUA
• 12h00: Confiança do Consumidor CB (Nov) – EUA