A última semana de setembro trouxe sinais claros de que o cenário de juros no Brasil continuará desafiador. O IPCA-15 acima do esperado somou-se ao discurso mais cauteloso do Banco Central e levou o mercado a precificar a manutenção da Selic em 15% até o fim de 2025, contrariando algumas teorias que apostavam em cortes mais cedo.
Inflação persistente e juros elevados
O dado de inflação reforça a percepção de que o processo de desinflação será mais lento do que se imaginava. Ao mesmo tempo, o Copom já havia sinalizado que não pretende reduzir os juros no curto prazo, justamente para conter as pressões de preços e preservar a credibilidade da política monetária.
Essa combinação cria um quadro em que o Brasil permanece com uma das taxas de juros reais mais altas do mundo, ampliando a atratividade da renda fixa, mas também mantendo desafios para a atividade econômica.
Impactos para os RPPS
1. Renda Fixa: oportunidade e risco
- Para novos investimentos, o cenário de Selic em 15% mantém taxas elevadas em títulos públicos e privados, criando oportunidades de travar bons rendimentos.
- Para posições já existentes, especialmente em títulos longos, a alta dos juros futuros pode pressionar a marcação a mercado, exigindo atenção à duration das carteiras.
2. Renda Variável: cautela em meio a volatilidade
Apesar do Ibovespa ter batido recordes na semana, os ajustes mostraram como o mercado está sensível a notícias de inflação e política monetária. Para os RPPS, isso reforça a importância de adotar um plano de contingência para momentos de volatilidade e evitar decisões reativas.
- A atenção ao risco sistêmico — tanto doméstico (político e fiscal) quanto internacional (juros nos EUA, tensões geopolíticas) — deve estar no radar.
- Uma boa alternativa é investir em diversificação de ações, tanto no Brasil quanto no exterior, equilibrando oportunidades locais com a solidez de mercados globais.
3. Solidez atuarial e gestão ativa
Com a Selic elevada, os RPPS têm a possibilidade de fortalecer sua base atuarial, garantindo retornos consistentes com menor risco no curto prazo. Porém, a volatilidade global — especialmente ligada à trajetória dos juros nos EUA e ao cenário político interno — reforça a necessidade de gestão ativa e de revisões periódicas da política de investimentos.
Conclusão
O IPCA acima do esperado foi um divisor de águas na percepção do mercado: os juros em 15% devem permanecer até o fim do ano. Para os RPPS, esse quadro traz tanto oportunidades na renda fixa quanto a necessidade de cautela e resiliência na renda variável.
Entre essas oportunidades, destacam-se principalmente as NTN-B (Tesouro IPCA+) marcadas na curva, que permitem capturar taxas reais elevadas e previsibilidade de fluxos de longo prazo, favorecendo o equilíbrio atuarial.
Já na renda variável, a diversificação entre Brasil e exterior (via BDRs) é fundamental para diluir riscos sistêmicos e capturar ganhos em diferentes mercados, fortalecendo a estratégia de longo prazo.
A construção de um plano de contingência para lidar com volatilidades, somada a uma gestão disciplinada e diversificada, é essencial para transformar o cenário desafiador em segurança e sustentabilidade para aposentados e pensionistas.
Mais do que nunca, este é um momento para transformar a estabilidade proporcionada pelos juros altos em segurança para aposentados e pensionistas.